“Quase uma semana depois de tomar posse, a presidente Dilma Rousseff ainda não tirou a foto oficial. O maior entrave são as férias de Celso Kamura – ela não abre mão de seu cabeleireiro. Dilma também precisa escolher a roupa que vai vestir e o cenário da imagem: dentro ou fora do Palácio do Planalto”.
E saiu na Folha de hoje (21/1/11):
"A imagem de uma bandeira brasileira gigante atrás da cambaleante Amy Winehouse, num palco, outro dia, me lembrou uma tarde de praia em Ipanema, num dia de semana, no remoto verão de 1971. Um adolescente carioca, aprendiz de flauta doce, tentava tirar no instrumento o Hino Nacional, baixinho, em meio à areia vazia. Um homem ouviu aquilo e não gostou. Deu-lhe uma bronca, acusou-o de achincalhar um símbolo nacional, ameaçou-o de prisão e se identificou: general fulano, do Exército brasileiro.
O garoto, alienadíssimo, escutou aquilo sem entender. Era fã dos Beatles, gostara do Hino ao ouvi-lo durante a Copa do Mundo do México, no ano anterior, não sabia que era proibido tocá-lo na praia.
Na verdade, ninguém sabia, nem isso estava escrito em lugar nenhum. Mas, para os plenos poderes de então -os militares-, quando o povo se interessava pela bandeira ou pelo Hino, só podia ser deboche ou subversão. Nessa mesma época, em Woodstock, Jimi Hendrix torturava o "Star Spangled Banner" na guitarra, jovens quase nus se enrolavam juntos na bandeira dos EUA e ninguém se ofendia.
No Brasil, levamos décadas para liberar nossos símbolos. Hoje a bandeira brasileira está nas cangas, nas toalhas de praia e no bumbum dos biquínis; em alguns Estados, por sorte poucos, o Virumdu ficou obrigatório antes de qualquer competição esportiva, mesmo a mais reles pelada. Ninguém se sente desrespeitado, ninguém deixa de amar nossas cores por causa disso.
Mas, na época, Horacio, o menino da flautinha e que só vim a conhecer muito depois, não gostou de ser agredido. Trocou a flauta por uma prancha, tornou-se surfista e se mandou para o Havaí. Só voltou dali a 20 anos, casado e pai de filhos americanos. Culpa do tal general que, se vivo em nossos dias, deve ter parido gatos ao ver a bandeira atrás de Amy, essa bem zuzu".
Você já reparou que você sempre vê os mesmos símbolos fazendo referência ao estado brasileiro? Sempre a bandeira nacional, sempre o verde e amarelo, sempre aquela estrela de cinco pontos com o cruzeiro do sul dentro e uma espada em pé atrás. Você já se perguntou de onde eles vêm?
Eles são o que chamamos de símbolos oficiais e são definidos por lei. Mas a foto oficial do(a) presidente da República que você vê em todas as repartições públicas federais, ao contrário do que parece, não é um símbolo nacional. Os símbolos nacionais são apenas quatro: o hino nacional, o selo nacional, as armas nacionais e a bandeira nacional.
Embora a lei diga que a bandeira possa/deva ser usada como manifestação de sentimento patriótico, ela também define como essa manifestação pode ser feita. Se olharmos com cuidado como é que a bandeira pode ser utilizada (o artigo 11 da mesma lei), ela não permite nosso tradicional ‘agasalhar-se na bandeira’ ou ‘sacudir a bandeira’, que tanto vemos em época de Copa do Mundo ou feito por esportistas depois de vencerem uma competição. Segundo a lei, a bandeira nacional só pode ser apresentada nas seguintes formas:
“I - Hasteada em mastro ou adriças, nos edifícios públicos ou particulares, templos, campos de esporte, escritórios, salas de aula, auditórios, embarcações, ruas e praças, e em qualquer lugar em que lhe seja assegurado o devido respeito;
II - Distendida e sem mastro, conduzida por aeronaves ou balões, aplicada sobre parede ou presa a um cabo horizontal ligando edifícios, árvores, postes ou mastro;
III - Reproduzida sobre paredes, tetos, vidraças, veículos e aeronaves;
IV - Compondo, com outras bandeiras, panóplias, escudos ou peças semelhantes;
V - Conduzida em formaturas, desfiles, ou mesmo individualmente;
VI - Distendida sobre ataúdes, até a ocasião do sepultamento”